5 de jun. de 2015

Pensar dói...



Pensar dói, enjoa, cansa
Ler? pra quê ler?
Mais fácil é ver imagem, bobagem, insignificância
Porque pensar dói, maltrata, cansa
Pra quê vir à luz? melhor ficar à sombra
Mais fácil é ser banal, bossal
Ócio colossal
De gente tosca, mansa
Porque pensar dói, dá medo, cansa
Mais fácil ser conduzido por quem pensa,
Quem sabe ler
Pela ganância
Porque pensar dói, dá preguiça, cansa
Então descansa!
Mais fácil assistir TV, 
E morrer sentado na poltrona
Da ignorância.
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3 de jun. de 2015

Arte ou Piada?

Uma reflexão sobre arte e conceito de beleza... 


O mundo ocidental de antigamente acreditava e pregava que o objetivo da arte era apenas o de ressaltar a beleza, a simetria, a aparência perfeita do Homem e da Natureza. Considerava-se então, a beleza como virtude. Fica visível em obras artísticas de várias épocas, transmitida em belos rostos simétricos e corpos esculturais. Até mesmo alguns filósofos da antiguidade classificaram a beleza estética como algo essencial para o desenvolvimento da visão de mundo, e da essência do ser humano.

O século XX derruba este conceito, mudando o foco, da aparência estética perfeita em elementos mais profundos, tornando-se praticamente rudimentar, reforçando traços perturbadores do ser e da natureza, que passam a dialogar diretamente com outras sensações. A quebra de paradigma, de tabus, a ideologia e os protestos tomam proporções maiores sobre a arte. E passa-se a destacar também a feiura, a deformidade, a pobreza e a loucura.

Existe um documentário chamado “Why Beauty Matters”, produzido pela BBC e apresentado pelo filósofo, escritor e especialista em estética, Roger Scruton que trata deste “abandono” da beleza nas artes modernas e no que isso afeta a execução da arte e o modo como a vemos nos dias de hoje. No documentário, Scruton questiona o tempo todo algumas obras modernistas, dadaístas, expressionistas e cubistas.

Dentre muitas, ele destaca principalmente “O Urinol”, de Marcel Duchamp, pioneira, de 1917. Trata-se de um simples urinol de porcelana branco, tomado de um depósito qualquer, assinado pelo artista, que se tornou uma das obras mais representativas do dadaísmo na França e no mundo, cujo valor comercial estima-se em inacreditáveis 3 milhões de dólares.

Scruton questiona qual teria sido a verdadeira intenção de Duchamp. Protesto? Arrogância? Revolução artística? A resposta fica em aberto, porém, é possível concluir com o filme, que “O Urinol” de Duchamp abre uma porta essencial para um novo tipo de arte, que não censura, ao contrário, liberta. Então ganhamos outras obras igualmente absurdas como: “luz que acende e apaga”, “lata de fezes” e “pilha de tijolos”. Objetos completamente “estúpidos” do cotidiano, em quaisquer circunstâncias, tornam-se arte sob as assinaturas de renomados artistas. Scruton vê nisso a banalização da arte e o esquecimento da beleza e da espiritualidade artística.

A partir daí, não há diferenciação entre quem é de fato um artista e quem não é, já que parte somente de uma ideia criativa e não da execução em si. Habilidades manuais tornam-se obsoletas e optativas.

Voltando ao urinol, Duchamp ironicamente haveria debochado da Arte, alegando que propositalmente trabalhou para depreciá-la, uma vez que a força da expressão o incomodava. Há, então, a quebra do paradigma e o processo de transformação da Arte, a partir deste novo conceito, iniciado por Duchamp e por outros artistas “subversivos”.

Imagino que Duchamp, com sua “piada”, realmente não tenha tido a menor ideia da proporção que viria a obter, e que sua crítica foi bem mais além do que se presume. A partir disto, a Arte passa a valer para todos e a beleza pode ser sentida ou apreciada nos mais diversos âmbitos e situações. Duchamp mostra, de forma um tanto debochada, porém ousada, que se pode ver beleza naquilo a que não se via antes e que tudo é uma questão de parâmetro. Isso talvez tenha aproximado um outro tipo de público, culturalmente “marginalizado”, menos elitizado, e talvez tenha aberto caminho para um novo olhar sobre a arte e sobre como a beleza é vista pelo mundo. E também, dá início a discussões intermináveis e um mar de críticas e de novos críticos. (Penso no quanto Duchamp deve ter sido responsável por novas vagas nesse campo...). 

O feio não é agradável aos olhos, mas perturbador e difícil de ser encarado. É mais fácil suavizar o olhar com coisas belas e “retilíneas”. Mas a arte imita a natureza, e a natureza é repleta de imperfeições, sinuosidades e possibilidades. A nova arte, iniciada por Duchamp, nos aproxima desta realidade num convite à reflexão, a interpretação, trazendo à luz o caos e a desordem, à entropia. A partir disso, feiura e beleza, perfeição e imperfeição se fundem, como a própria Natureza que se completa em ambos. O urinol pode não ser considerado pela maioria como arte, mas podemos concordar que é o estopim, a erupção deste novo conceito, onde o público deixa de ser passivo e torna-se atipicamente ativo. A arte passa a ser, não somente contemplada, mas analisada, pensada, incorporada ao dia a dia, a vida de quem a aprecia.

Roger Scruton critica esse tipo de arte por preocupar-se com a perda dos padrões de beleza, a perda da essência que é a criatividade, com o culto à feiura e a possível falta de concretude dos artistas modernos. Além da comercialização e consumismo que toma conta do mundo, com a industrialização da arte.

Talvez estes padrões de beleza que Scruton insiste em sustentar, tenham se modificado naturalmente a partir do século XX, juntamente com as mudanças ideológicas é sociológicas. As transformações culturais. A beleza está atrelada ao gosto, e nos tempos modernos a liberdade possibilita que cada ser humano tenha o seu e lute por ele. Por isso é muito delicado julgar o que de fato é a beleza e quem deve ditá-la. E nem sempre foi assim. Hitler impôs seu conceito de beleza, excluindo aquilo que não se encaixava em seus padrões e o resultado é degradante, trágico e hediondo. Não somente centenas de obras de arte foram destruídas, como pessoas com deformidades, deficiências físicas ou mentais foram mortas deliberadamente em nome da beleza e do que ele julgava como verdade artística absoluta.

Quem pode definir o que é Arte?

A arte não é exatamente a beleza, nem o culto à feiura ou a utilidade cotidiana criticados por Scruton. A arte é um retrato real da natureza, da liberdade e da expressão humana, onde tudo é imaginável, tornando uma de suas possibilidades mais valorizadas, a "beleza", relativa e tangível, mapeada pela forma como a enxergamos, particularmente e culturalmente e não como os críticos querem impor. Arte não é exatamente um nome assinado em um vaso sanitário ou um belo corpo esculpido em mármore, ou a interpretação do indivíduo que a observa, mas um terceiro elemento: a contemplação entre os dois mundos e seus efeitos. É a pura essência da causa e da proximidade entre público e artista, independentemente do formato, seja na beleza de uma antiga escultura grega ou numa insignificante lata de excremento, o que determina a arte é o sentimento.

Não quero aqui, contudo, desprezar as classificações artísticas, ou banalizá-las, rotulá-las como bem entender, empacotá-las numa mesma embalagem, sem o menor senso crítico, pressupondo que qualquer objeto pode ser classificado como arte. Entendo que um objeto de utilidade, produzido em série, não significa arte quando apenas cumpre seu papel. Uma cadeira é apenas uma cadeira dentro de uma sala de aula, por exemplo. Mas, uma única cadeira, pode tornar-se arte quando há uma intenção, uma proposição, uma simbologia cultural, uma narrativa por detrás de sua existência e a impressão que irá exercer nesta proximidade entre artista e público. Quando há essa sensação, quando há comunicação interpretativa, quando há um tipo de toque sensitivo, uma hipérbole, uma catarse, então é arte, e pode ser bela.

Em suma, Scruton defende a ideia de que estamos nos afastando da beleza, em detrimento do que é útil, consumível, prático e tecnológico. E “culpa” o dadaísmo, o cubismo e o modernismo por isso.

Mas fica minha reflexão de que, estes padrões, estão culturalmente se modificando e de que estas mudanças nunca representaram um desastre artístico, mas uma adaptação do que é prático ao que é sensível, ou vice-versa.

A beleza da pobreza, do desalinho, do mau gosto, do avesso, da podridão sempre existiu, esteve evidente o tempo todo, esperando o momento de escorrer pelo mundo, Duchamp só deu a descarga...

Texto: Vivian Guilhem
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2 de jun. de 2015

Frieza II

O pior frio não é o que vem da janela, mas da indiferença...


Dias cinzas, amores cinzas...
Da janela o movimento tenso, balanço de árvores retardadas
Mil flores geladas
A luz difusa revela a frieza 
Suas respostas sem graças
Seu amor nublado
Aquele que parecia lindo, hoje é neblina, passado...
Que era leve e o verão arrastou...
Que o mar afogou, entre continentes
Que entorpecido de males, habita este coração aflito
Na esperança da cura inexistente
E entre placebos e enganos, 
Dilacerado, esquartejado
Sobrevive, insistente.
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