Ele estava com
um problema que parecia não ter mais fim. Estava falido e as dívidas se
acumulam como água perto de bueiro entupido. Decidira que iria matar-se,
decidira e pronto.
Mulher e filhos
haveriam de compreender, a vida para ele era um tormento sem fim, horas e horas
de angustia e dor.
Mas o problema
que parecia não ter fim era exatamente este... Como matar-se? Julgou a
principio que sem bebida não teria coragem suficiente, então na primeira
tentativa comprou uma garrafa de vodka e a bebeu num gole, ou dois, não
importa, mas bebeu e sentiu-se ótimo! Era invencível, no dia seguinte começaria
vida nova, não havia motivos para matar-se. Era um homem feliz.
O drama, é que
pelas manhãs, cheio de ressaca e dor, voltava a ser um lixo.
-Hoje vou me
matar, não preciso beber, vou me atirar do prédio, será hoje!
Mas na hora H
sentia que era preciso beber, sem bebida, sem coragem, comprou algo mais leve,
um vinho, bebeu-o inteiro, olhou pela janela de onde planejava se jogar e achou
as estrelas lindas, sentiu uma nova força interior, o vinho de Dionísio deu-lhe
consciência que poderia mudar seu destino, assim dormiu confiante.
Nos dias que se
seguiram era a mesma coisa, bebia pra criar coragem pra morrer e a bebida
parecia lhe dar vontade pra viver. Um flagelo tal como Sísifo, Tântalo e
Prometeu.
De cirrose
morreu.
Por Vivian Guilhem
Por Vivian Guilhem