28 de fev. de 2015

O Vestido, o Cérebro e o Relativismo

Esta semana na internet não se falou em outra coisa além de um vestido de festa postado por uma cantora em seu Tumblr.

A discussão era acerca de suas cores e tiveram pessoas se debatendo nas redes sociais, inclusive incomodadas com tamanha repercussão a troco de nada. Eu mesma a princípio não entendi, afinal era só um vestido branco e dourado, até que li alguns comentários, mostrei pra minha mãe a mesma imagem e pedi pra que ela me descrevesse as cores. A resposta que ela me deu foi: “preto e azul”.

Aí que tudo fez sentido. Aliás, não fez. Até então, eu acreditava tratar-se de alguma brincadeira. Mas minha própria mãe não iria querer me enganar, mesmo porque, ela também não sabia do que se tratava. Comecei a vasculhar a internet sobre explicações de como as pessoas poderiam enxergar cores tão distintas numa mesma imagem.

Não sou especialista em ciência, nem medicina ou fotografia, mas pelo que entendi, nosso cérebro é que faz a codificação das cores que a retina identifica e o que vemos diferente depende do nível de iluminação e da variação da quantidade de receptores que temos de uns pros outros. Abaixo uma explicação do oftalmologista Dr. Ricardo Guimarães para o site http://info.abril.com.br/ pode ajudar a entender melhor:

COMO ENXERGAMOS AS CORES?


“Olho não vê cor. Quem vê cor é o cérebro”, diz Guimarães. Parece estranho, mas nossos olhos não distinguem as cores umas das outras. Quem faz essa distinção é o córtex cerebral, que interpreta as frequências de luz captadas pelas células do olho. 


No caso das cores, temos três tipos das chamadas células fotorreceptoras coloridas: vermelhas, verdes e azuis. Isso acontece porque essas três cores básicas (vermelho, verde e azul) podem ser combinadas para dar origem a qualquer outra cor. 


Indivíduos que possuem falta de um desses tipos de células são daltônicos, mas todas as pessoas possuem variações na quantidade de receptores de cada cor. “Essa variações podem chegar a até 16 vezes, fazendo com que o vermelho que você enxerga, por exemplo, seja diferente do que eu enxergo”, diz Guimarães. 


Portanto, as cores que enxergamos estão ligadas a diferenças fisiológicas (a quantidade de células que captam cores) e a diferenças de interpretação (a forma como o cérebro entende as frequências). E isso é subjetivo. 


AS CORES MUDAM CONFORME O AMBIENTE


“Toda cor muda de cor quando está perto de outra cor. Isso acontece porque o seu cérebro muda a forma como percebe as cores dependendo de quais outras estão próximas a ela”, diz Guimarães. 

“Experimente abrir um programa de manipulação de imagem, como Photoshop, e alterar a relação de brilho e contraste em uma imagem. Toda a figura mudará de cor. Na verdade, é seu cérebro quem está interpretando esses dados de forma diferente, baseado no contexto do ambiente."

Ou seja, o que determina a cor é a luz, e nosso cérebro codifica as cores de maneiras diferentes uns dos outros. Na foto do vestido houve saturação da luz e por conta disso, algumas pessoas com maior percepção de preto enxergaram corretamente, outras com menor nível das células fotorreceptoras têm maior dificuldade em perceber e o cérebro cria o que podemos chamar de ilusão de ótica.
Esse fenômeno não é uma futilidade, como li em alguns comentários no Facebook. Ele não só é bem curioso, como foi considerado por um cientista americano “a maior diferença individual vista por ele em mais de 30 anos de estudo”.

Sabemos que o estudo das cores não iniciou com os cientistas ou médicos, mas lá nos tempos antigos, com filósofos que já discutiam a complexidade das cores e de como elas são percebidas por cada ser humano distintamente. Então o que é o preto pra alguém, pode muito bem ser dourado pro outro.

A mim só faz reforçar a teoria do relativismo. Temos inúmeras impressões e interpretações acerca de um mesmo objeto, provando na divergência das cores do vestido que nem sempre a minha verdade pode ser a sua verdade. Para Protágoras, no diálogo platônico “Teeteto”, o homem é a medida de todas as coisas. Somos nós então, juízes de nossas próprias verdades. Saindo um pouco do âmbito das cores e interpretações cerebrais e pensando pelo lado cultural e das diversidades, realmente é um tanto perigoso atribuir um valor absoluto a qualquer coisa, a qualquer pensamento, visto que o tempo, espaço, clima e ambiente podem mesmo influenciar opiniões e pensamentos sobre um mesmo assunto. É complexo, eu sei, mas é um caso a se refletir...


Pensando nisso talvez devêssemos tentar respeitar um pouco mais a opinião alheia e também a nossa própria, ainda que sejam completamente diferentes. Algumas vezes discuti com minha mãe a respeito de cores de roupas, eu via preto, ela via azul-marinho, por exemplo. Depois desse episódio, sabendo que a cor real (ou relativa) do vestido é “preto e azul”, nunca mais vou duvidar dela!





Obs. Ao término deste texto, procurando a foto do tão falado vestido pra colocar no blog, me deparei com a realidade das cores preta e azul. Agora não consigo mais ver branco e dourado como antes. Nem mesmo a nossa própria visão é imutável!!!

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