19 de fev. de 2015

O amor ofende?

(um desabafo revoltado)


A humanidade parece estar se distanciando do amor. Antigamente haviam os trovadores, menestréis, serenatas, poesias... Era tão lisonjeiro ser o “alvo” de uma dessas calorosas demonstrações! O amor era uma loteria! Mesmo o sofrimento por amor chegava a ser bonito. Havia inclusive aqueles que se suicidavam por rejeição, por amor não correspondido, e era considerado um ato corajoso e romântico. 

Na idade média os amantes trocavam pulgas e piolhos  uns dos outros como prova de amor, era um suvenir, uma lembrança viva do ser amado, um gesto muito carinhoso. Crimes passionais também eram bem mais comuns, não que fossem bonitos, mas a pena era mais branda, tamanha a compreensão que recaía sobre o assassino, enlouquecido pela rejeição ou pela traição. 

Não precisamos ir tão longe, nos anos 80 o que se ouvia nas rádios era quase sempre músicas lentas e românticas. 

Na pré-adolescência da época, íamos a bailinhos ou discotecas e todos esperávamos ansiosos pra dançar coladinho, ou brincar a "brincadeira da vassoura". E vinham então os primeiros beijos os primeiros amores, as poesias deitadas sobre papéis de cartas decorados, escritas com canetas coloridas, com cheirinho de chiclete e beijinhos de batom, as fitas cassetes gravadas com canções que tinham “tudo a ver” com o contexto da relação, os bichinhos de pelúcia, os bilhetinhos... 

Isso tudo foi extinto, seja na adolescência ou na vida adulta, hoje em dia as declarações românticas foram banidas. Foi tudo rotulado como “brega”, piegas e enquadrado no sentimentalismo barato. Criminalizaram o amor!

Junto a Era Digital me parece ter vindo também uma nova Era: a do “Gelo Emocional”. Vamos combinar, as pessoas estão ficando mais frias. Há menos casamentos, menos romantismo, e quase nenhuma declaração.


Por algumas experiências pessoais e também de amigos, concluí minha tese de que o amor realmente incomoda. Correspondido ou não, ele agora tem limite e se você é um dos poucos românticos que ainda restam e quer tentar atravessar essa “barreira”, pode se dar muito mal. Você possivelmente receberá uma punição e corre o risco de cair no ostracismo sentimental.

Muito cuidado também ao usar a frase “Eu te amo”. Pra muitas pessoas ela soa perigosa, como uma arma apontada pra cabeça, traz consigo um "pacote" de palavras negativas como: Compromisso, prisão, cobrança, incômodo, assédio, drama, crise, choro, insistência, etc... 

É mesmo uma grande ofensa, ainda que você tenha tudo que encante o ser amado, ainda que ele ou ela tenha demonstrado estar tão apaixonado quanto você, qualquer demonstração imediata mais “sincera”, direta ou indireta, pode ser considerada um exagero, um passo em falso, e pode colocar tudo a perder.



Se a pessoa em questão não dá sinais nenhum de reciprocidade, redobre o cuidado. Ela correrá da sua vida imediatamente caso se sinta pressionada pelo "peso" do seu amor. Uma declaração como essa é tão perigosa que faz romper amizades e por vezes destrói a oportunidade de um possível futuro feliz a dois. É difícil pra "vítima" entender, talvez por desagradáveis experiências, que se pode estabelecer um vínculo saudável independente dos sentimentos envolvidos. 

Portanto meu amigo, se você ama alguém do fundo de sua alma, acalme essa ansiedade, vá “ganhando terreno”, não faça grandes demonstrações de imediato, e não fale de amor, simplesmente disfarce. Hoje em dia o amor incomoda, é considerado brega e é um privilégio dos relacionamentos estáveis e dos retrógrados. 

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